Maternidade na Contemporaneidade:

Desafios e Transformações

“Todas as vitórias ocultam uma renúncia.” (Simone de Beauvoir)

Introdução

A maternidade na contemporaneidade é um tema marcado por diversas transformações que envolvem aspectos sociais, culturais e políticos. Uma das mais significativas é o número progressivo das mulheres na educação superior, porta de acesso às profissões liberais e a crescente participação feminina no mercado de trabalho. Segundo dados do IBGE, em 2022, 52,7% das mulheres brasileiras estavam trabalhando. Quando pensamos em história, percebemos que as mudanças foram revolucionárias não só nas nas expectativas do mundo sobre o lugar feminino na sociedade, mas nas expectativas das próprias mulheres sobre elas mesmas. Os movimentos sociais levantaram questões em nossa sociedade capitalista e patriarcal acerca das oportunidades de trabalho, das questões de gênero e da sexualidade feminina como um todo. As mulheres como grupo, tornaram-se uma força política e a imagem da mulher, atuando apenas na intimidade como única responsável pelos cuidados com a família, ganha hoje outros contornos que fazem dela um ser que busca no seu desenvolvimento o poder da realização de seus dons, talentos e potencialidades.

Essa mudança tem impacto direto na rotina das mulheres que são mães e que precisam conciliar o trabalho com os cuidados dos filhos. Antigamente, a maternidade era uma obrigação e um requisito da feminilidade mas com a evolução do pensamento das pessoas, hoje a maternidade acontece não mais por obrigação mas por uma decisão baseada no livre desejo e afeto, pois a mulher agora ousa inventar o próprio destino de acordo com suas necessidades internas. Essa mulher é o ser contemporâneo por excelência: que tem vontades próprias, desvincula sexo de procriação e que se insere no mercado de trabalho, e apesar de muitas mulheres optarem pela não maternidade, há um número altíssimo de mulheres que são mães, o que hoje significa conciliar o governo de si mesma com a preservação de papéis e valores tradicionais (mãe, educadora dos filhos, organizadora do espaço doméstico, esposa), e ainda profissional inserida no mercado de trabalho.

Nesse contexto, ao longo dos anos, surgiram políticas públicas voltadas para a garantia dos direitos das mães que trabalham fora, como a licença-maternidade, a creche e a jornada de trabalho flexível, porém, ainda há muito a ser feito para garantir que a maternidade seja vivenciada de forma adequada socialmente falando.

A dificuldade de conciliar vida profissional e familiar é um desafio para as mães. Apesar de alguns avanços, a falta de políticas públicas que garantam creches e escolas em tempo integral torna difícil conciliar os dois aspectos da vida. Além disso, a cultura organizacional muitas vezes não é amigável às mães, o que pode levar ao preconceito e discriminação na sociedade e no ambiente de trabalho.

Quando decidi escrever sobre esse tema, uma cena me inspirou. Era quase 8h00 da manhã e eu notei uma mãe deixando seu filho pequeno de uns 2 ou 3 anos na porta da escolinha, com uma bolsa e uma mochila da criança – que ela entregou para o segurança com semblante de quase tristeza ao deixar ali junto com aqueles pertences, seu bem mais precioso, provavelmente até o fim do dia já que ela vestia uma roupa formal de trabalho. A leitura que eu fiz naquele momento, foi da maternidade na contemporaneidade: que dentre outras questões inerentes ao tema, fala sobretudo da mulher dividida entre a maternidade e a profissão; entre viver o afeto e se destacar no mercado de trabalho; entre a realização pessoal e a realização profissional.

Em 2012 quando engravidei da minha filha eu trabalhava como advogada em um grande escritório em São Paulo. Na época, a notícia da gravidez me pegou de surpresa pois eu não tinha planejado engravidar naquele momento, e por ter pouco mais de 1 ano no escritório, fiquei preocupada com a reação dos meus gestores e de como seria minha rotina dali em diante. Por outro lado, meu resultado tinha sido positivo naquele primeiro ano e eu imaginei que por bater todas as metas teria um reconhecimento e uma relação de parceria com meus empregadores. Marquei uma reunião com o diretor e depois de contar da gravidez, falei que eu pretendia continuar trabalhando normalmente até o nascimento do bebê e a resposta dele antes mesmo de eu concluir o que estava dizendo foi: é por isso que eu prefiro contratar homens. Voltei perplexa para minha mesa e depois fui para casa sem acreditar no que eu tinha ouvido aquele dia.

Meses após, eu tive uma questão na gestação que me obrigou a ficar em repouso absoluto e eu me afastei do trabalho. Depois que minha filha nasceu, me ligaram para organizar meu retorno, mas eu decidi não voltar –  primeiro por minha filha ainda ser muito pequena e segundo pela postura do diretor que refletia a mentalidade do ambiente profissional que eu estava, e que me fez perceber que não tinha mais nada a ver comigo, especialmente depois que me tornei mãe e percebi a importância do desenvolvimento de alguns valores e virtudes no trato com as pessoas, afinal, a partir dali eu seria um exemplo na formação de um novo ser e permanecer em um contexto condizente com minha forma de pensar e viver, tornou-se fundamental.

Hoje o que me ocorre é: se eu diante dos meus privilégios por ser banca, classe média e com curso superior sofri discriminação no ambiente de trabalho quando engravidei, fico imaginando a situação de mulheres que não tem esses privilégios e nem a opção de escolher sair ou continuar de ambientes tóxicos e retrógrados de trabalho por dependerem de seus empregos. A maternidade é intimamente ligada às questões de gênero, e por isso, é tão importante a conscientização e uma mudança de postura por parte da sociedade e do poder público, com a criação de políticas públicas para garantir os direitos das mulheres afim de minimizar os impactos que ainda sofremos com a disparidade em todos os níveis entre homens e mulheres. Sempre digo e reitero aqui que sou otimista e que enxergo uma evolução diante dessa questão, mas ainda há muito a evoluirmos nesse sentido.

Li dois livros há alguns anos chamado: Feminismo para os 99% Um Manifesto das autoras Cinzia Aruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser e O Calibã e a Bruxa de Silvia Federici e essas obras ampliaram os meus horizontes relacionados aos problemas enfrentados pelas mulheres, pois apesar do meu legitimo lugar de fala, percebi que as questões de gênero iam muito além dos meus desafios pessoais como mulher e que se na minha experiencia vivi algo desafiador, tem mulheres vivendo coisas ainda piores pela falta de privilégios.

Voltando as transformações, uma mudança cultural importante está relacionada à paternidade responsável. Com a revolução industrial o homem passou a trabalhar longe de casa e assumiu o papel de provedor financeiro enquanto as mulheres eram responsáveis pela manutenção e bem-estar da família. Na atualidade, cada vez mais os pais têm assumido um papel ativo na criação e educação, deixando de ter um papel secundário como provedores e passando a atuar ativamente na criação e cuidado dos filhos. Essa mudança pode ser observada, por exemplo, na ampliação da licença-paternidade, que hoje é de 5 dias com a possibilidade de extensão de até 20 dias – caso a empresa participe do programa empresa cidadã, que incentiva práticas de apoio a família – e no aumento do número de pais que acompanham a gestação e o parto. Quando isso acontece, contribui para o equilíbrio das funções relativas aos cuidados com os filhos possibilitando que as mães se dediquem também a outras atividades pessoais e profissionais.

Outro desafio comum enfrentado pelas mães, é a pressão social pela maternidade perfeita. As expectativas em torno da maternidade são muito altas, o que pode levar a sentimentos de culpa e inadequação. Além disso, muitas vezes as mulheres são julgadas por suas escolhas em relação à criação dos filhos, seja por optarem por não ter filhos, por escolherem um modelo de família diferente do convencional ou por não se dedicarem integralmente à maternidade. Antigamente, intromissões e julgamentos na criação dos filhos aconteciam nos círculos próximos das pessoas, mas hoje com a velocidade da informação isso aumentou exponencialmente e se alastrou pelos quatro cantos do mundo e se a mulher estiver vulnerável num período pós parto, por exemplo, pode até desenvolver depressão e adoecer mental e emocionalmente por conta dos comentários negativos e a constante comparação que a internet propicia para os que a usam de maneira equivocada, pois a internet em termos de informações uteis e apoio, é uma ferramenta maravilhosa se bem usada.

Através das redes sociais e dos aplicativos de celular, as mães podem se conectar com outras mulheres em situações similares, compartilhar experiências e buscar apoio. Contudo, também podem surgir novas pressões e expectativas em relação à forma como as mães devem se comportar e criar seus filhos, que nessa geração já nascem conectados às telas.

A maternidade contemporânea anda me mãos dadas com a sobrecarga de tarefas e responsabilidades. Muitas mulheres se veem sobrecarregadas com as demandas do trabalho e da casa, além dos cuidados com os filhos. Isso pode levar a problemas de saúde, como estresse físico e mental e ansiedade. Por isso, a colaboração de todos os integrantes da família é fundamental para harmonia, saúde e felicidade de todos. Nesse sentido, a educação dos filhos é um assunto comum de debates e na minha visão, esse avanço das mulheres como seres desejantes e protagonistas, apesar de desafiador é benéfico para toda sociedade, uma vez que, filhos e filhas de mães que trabalham dentro e fora de casa, geralmente são ensinados a contribuir com os afazeres do lar, a se comprometerem com os estudos e a contribuírem com a família como um todo e isso é favorável para essa nova geração que justamente por conta das telas, esta acostumada a querer receber tudo pronto e sem participar do processo das coisas, e esse comportamento de colaboração contribui para a formação dos valores, autonomia e igualdade.

Além da educação e formação, a maternidade também está relacionada aos direitos da criança e do adolescente. A proteção desses direitos é fundamental para garantir que as crianças e adolescentes tenham acesso à educação, à saúde, à cultura e ao lazer. O Estado e a sociedade têm o dever de garantir esses direitos e proteger a maternidade em todas as suas formas.

Enfim, toda essa temática é muito rica e a minha ideia é promover uma reflexão crítica sobre as normas e valores culturais que influenciam a experiência materna e fazer apontamentos que contribuam com a expansão de consciência das pessoas, o empoderamento, a empatia, o respeito pelas escolhas das mulheres e o desenvolvimento de todos nós sobre temas tradicionais diante da contemporaneidade.

Maternidade: Feminismo e o Sagrado Feminino

A humanidade em geral está adoecida e as mulheres diante da maternidade estão mais sujeitas a sofrerem com questões de saúde em todos os níveis pela sobrecarga. O que eu observo do ponto de vista feminino é que o acúmulo de funções e a consequente falta de respeito aos tempos internos é a grande causa desse problema. Atualmente quando uma pessoa quer demostrar que é bem-sucedida, ela mostra nas redes sociais o quão ocupada ela é, com milhares de afazeres no campo profissional e pessoal como se essa “produtividade” fosse um termômetro para ter uma vida interessante e dinâmica. Obviamente ter uma vida preenchida com atividades de qualidade é fundamental, porém, uma pessoa que vive de forma frenética (especialmente nas grandes cidades) e a consequente falta de momentos ociosos para recarregar as energias é nocivo para saúde, pois é justamente nesse vazio que mora o espaço para a reflexão, conexão com si mesma e o poder criativo.

Nós mulheres somos cíclicas e compreender os nossos ciclos orgânicos naturais é estar em harmonia com o que está acontecendo dentro fora de nós. Enquanto ignoramos isso, ficamos fragmentadas por não estarmos inteiras em nós mesmas. Ao perder a conexão com essa ciclicidade, nos identificamos como mulheres “unifacetadas” ao invés de perceber que somos muitas mulheres em uma, multifacetadas  – não no sentido de fazer mil coisas ao mesmo tempo ao longo da vida, mas porque estamos mudando diariamente nossas fases e ciclos – dentro de nós mesmas e na forma como expressamos quem somos.

Geralmente quando uma mulher oscila o humor é repreendida e vista como inadequada e inconstante, como se o ideal fosse ser sempre linear, e por acreditar nisso também porque fomos ensinadas a não desagradar os outros, ignoramos nossos ciclos internos que flutuam junto com nossos hormônios e entramos no piloto automático da vida – e é nesse lugar de desconexão que perdemos de vista quem realmente somos, nossa graciosidade e alegria de viver.

Quando perdemos a consciência do nosso feminino, começamos a entrar num movimento que é muito patriarcal, capitalista e colonialista cuja a intenção desse sistema é que sejamos de alguma forma a manifestação e a expressão do que ele propõe: que trabalhemos das 9h00 às 18h00 de segunda a sexta, ou seja, esse sistema quer que não paremos de trabalhar nunca, já que o que “produzimos” e “ desenvolvemos” é o bem mais valioso para o capitalismo que é o capital humano (pessoas) e para isso é interessante que sejamos lineares, sem flutuações e de uma forma a não nos movermos diante dos nossos ímpetos internos, instintos e intuições e somente responder a uma demanda de produtividade trabalhando dentro e fora de casa de forma incansável.

Fomos educadas a nos tornamos uma só: lineares e produtivas e com isso, atendemos a uma necessidade do sistema acreditando que isso é o melhor a ser feito.  O grande problema é que ao atuamos assim na vida, estamos deteriorando partes muito importantes do nosso ser, primeiro porque se estamos crescendo verticalmente em um único aspecto, e provavelmente existem aspectos internos que não estão sendo vistos, acolhidos e cuidados – e daí nasce as doenças do corpo, da mente e do espírito.

Por isso o autoconhecimento, o autocuidado, o respeito aos nossos ciclos internos e as pequenas pausas ao longo dos dias, são fundamentais para uma vida saudável, consciente, equilibrada e feliz.

Em contraponto a reconexão com o feminino, estamos numa era feminista e necessária na busca da igualdade de direitos e oportunidades, e como consequência existe um renegar muito grande de todas as cargas que foram atribuídas as mulheres como obrigações de gênero, como por exemplo, fazer uma comida, limpar a casa e cuidar dos filhos, mas no que diz respeito ao feminino, o resgate ao cuidado não como obrigação, mas como experimentação e reconexão com todas as nossas partes e aspectos se torna algo importante. Cuidar da casa como um templo, limpar e transmutar o que está estagnado, fazer o alimento trabalhando o processo de nutrição própria e dos que amamos são ações que nos convidam a retornar para nossa essência feminina que é sagrada e criativa.

Cada vez mais mulheres têm buscado a independência financeira e a liberdade para tomar suas próprias decisões e isso é uma revolução, mas apesar das causas feministas, o ideal é que as questões inerentes ao feminino e a conexão interior com nossa natureza e ciclicidade não sejam negligenciadas, pois quando são, causam grandes prejuízos na vida das mulheres. Além disso, quando uma mulher tem consciência desse seu aspecto, ela recupera o poder interior para conduzir as alegrias e adversidades da vida de forma mais serena e empoderada.

Um ponto atual sobre o feminismo é o crescente questionamento dos papéis tradicionais de gênero. A maternidade também está relacionada às novas configurações familiares que têm surgido na contemporaneidade. Hoje em dia, existem famílias formadas por pais e mães do mesmo sexo, famílias uniparentais, famílias monoparentais, entre outras. Muitas mulheres optam por não ter filhos ou por adiar a maternidade para mais tarde congelando óvulos, por exemplo, enquanto outras optam por serem mães solo ou por terem filhos em relacionamentos homoafetivos. Isso tem levado a uma maior diversidade de modelos familiares e a uma maior reflexão sobre a maternidade como uma escolha pessoal, e não apenas um papel socialmente imposto. Isso tem levado a mudanças nos modelos de família e na forma como as mulheres vivenciam a maternidade nesse momento histórico.

As técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro e a adoção têm possibilitado que pessoas que não conseguem ter filhos biológicos possam realizar o sonho da maternidade. No entanto, esses modelos também podem trazer dilemas éticos e jurídicos.

Essa temática é complexa e embora tenham ocorrido mudanças significativas nas últimas décadas, as mães ainda enfrentam desafios estruturais e emocionais que precisam ser abordados. É fundamental que a sociedade como um todo reflita sobre essas questões e trabalhe em conjunto para garantir que as mulheres possam exercer sua maternidade de forma plena, saudável e feliz.

Maternidade e o Direito de Família

O Direito de Família é o ramo do Direito que trata das relações familiares e das consequências jurídicas decorrentes dessas relações. A maternidade é um tema importante e relevante nesse contexto, especialmente na contemporaneidade, em que as relações familiares têm passado por diversas transformações.

Na atualidade, a maternidade é compreendida de forma ampla e diversa, podendo ser biológica, afetiva, adotiva, por meio de técnicas de reprodução assistida, entre outras formas. O papel da mulher como única detentora do papel de mãe também tem sido questionado e ressinificado visto que pais, avós, tios e outras figuras podem também desempenhar esse papel afetivo.

O Direito também tem acompanhado essas mudanças, buscando proteger a maternidade em todas as suas formas. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu que é dever do Estado assegurar à criança, dentre outros direitos, o direito à convivência familiar e comunitária, o que implica na proteção à maternidade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que toda criança e adolescente têm direito a convivência familiar e comunitária, e que o Estado deve garantir medidas que viabilizem a reintegração familiar, a colocação em família substituta, a adoção e outras formas de cuidado, sempre levando em consideração o melhor interesse do menor.

A evolução histórica do Direito de Família com relação à maternidade é marcada por diversas mudanças significativas. Ao longo do tempo, as relações familiares passaram por transformações importantes, que exigiram uma revisão das normas jurídicas que regulam essas relações. O reconhecimento legal das famílias formadas por pessoas do mesmo sexo, por exemplo, é um avanço significativo no reconhecimento das diversas formas de maternidade na contemporaneidade.

No passado, o direito de família era fortemente baseado na ideia de que a mulher tinha como papel principal o cuidado dos filhos e o papel de mãe era entendido como algo exclusivo das mulheres. A maternidade biológica era considerada o principal vínculo entre a mãe e o filho, e as outras formas de maternidade não eram reconhecidas.

Com o passar do tempo, as relações familiares mudaram e a maternidade passou a ser entendida de forma mais ampla e diversa. As técnicas de reprodução assistida permitiram a gestação de crianças por mães biológicas que não necessariamente desejam ou podem cuidar dos filhos, e a adoção passou a ser uma forma cada vez mais comum de formação de famílias.

Nesse contexto, o Direito de Família precisou se adaptar às mudanças sociais e culturais, buscando garantir a proteção da maternidade em todas as suas formas. Hoje em dia, a maternidade é entendida como uma relação afetiva e não apenas biológica, e a figura materna como vimos, pode ser desempenhada por outas pessoas como pais, avós, tios, entre outros.

Porém, ainda que a função materna possa ser desempenhada por outras pessoas em termos de afeto, nenhuma relação se sobrepõe ao vínculo e amor materno que quando presente de forma saudável é insubstituível.

Maternidade e o Divórcio

Ser mãe não é tarefa fácil, ser mãe divorciada também não. Muito embora eu seja uma apoiadora do divórcio como um meio para solução de conflitos familiares relacionado ao casamento, os desafios de uma mãe divorciada por vezes são complexos.

Eu acredito que filhos de pais divorciados não são infelizes, são infelizes os filhos de pais que permanecem brigando e que não se entendem e nem se divorciam, tornando o ambiente familiar infeliz.

Por outro lado, muitos casais durante o divórcio e após o processo, permanecem brigando e pior: usam os filhos como moedas de troca e armas de ataque e vingança. Esse cenário é comum e afeta famílias de todas as classes, raças e regiões do país.

Outro cenário comum, é o de pais que são ausentes e não contribuem com a criação dos filhos em termos afetivos e financeiros, obrigando as mães a serem mães e pais das crianças e adolescentes.

Existe ainda um preconceito velado com mães divorciadas por conta da longa influência da religião no direito de família. O direito canônico influenciava diretamente nas questões jurídicas familiares até a constituição de 1891 quando houve a separação da igreja e o Estado e a partir de então, as questões sobre a separação começaram a ser discutidas no Brasil.

Atualmente após 45 anos da lei do divórcio, estamos assistindo uma vitória para toda a sociedade, principalmente para as mulheres, que anteriormente a lei ser como é hoje, era necessário a comprovação da separação judicial ou de fato para que o divórcio fosse decretado e ainda nesse contexto, era discutida a culpa pelo divórcio, e caso a mulher fosse considerada culpada, ela perdia o direito a usar o nome do ex-marido, perdia a pensão alimentícia e a guarda dos filhos. Agora com os novos termos desde a emenda constitucional 66/10 não tem mais prazos para se requerer o divórcio e foi substituída a culpa pela responsabilidade, acabando com o fim do retrocesso no ordenamento jurídico com a ideia de prevalecer a autonomia da vontade das partes em exercer seu direito à liberdade de viver da forma que cada um bem entender.

Ainda sobre o divórcio, fora a questão histórica e os avanços dessa temática, como advogada percebo que tanto as mulheres divorciadas, como as que criam seus filhos sozinhas, sofrem grande parte das vezes com o não pagamento de pensão alimentícia dos filhos pelos ex-cônjuges/genitores e esse tem sido um grande desafio em nosso momento histórico e uma grande forma de fomentar os conflitos familiares, que prejudicam a todos os envolvidos, especialmente as crianças.

Mas percebo também que apesar de todos os problemas que um divórcio mal conduzido possa ter e todas as dificuldades que podem ocorrer, escolher se divorciar na tentativa de ser mais feliz geralmente é uma oportunidade para todos recomeçarem – pais e filhos – com mais maturidade, paz e felicidade.

Violência Processual contra Mães e Falsas Alegações de Alienação Parental

Com o avanço da lei do divórcio e seus desdobramentos, surgiu também um grave problema que tem afetado mães em todo país, independente de raça, classe e posição geográfica, que preciso citar aqui.

O Direito de Família evoluiu para acompanhar o movimento da sociedade, mas não consegue ainda trazer soluções eficazes em combate à violência processual contra mães e as falsas alegações de alienação parental feitas para prejudicá-las nos processos de divórcio, em geral por vingança dos ex-cônjuges, que usam esse artificio para tirar a guarda dos filhos das mães tanto para desestruturá-las como também para não pagar a pensão alimentícia. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou recentemente o protocolo para julgamento com perspectiva de gênero afim de minimizar os impactos dessa prática utilizada no judiciário.

Felizmente com as redes sociais, esse tema saiu da invisibilidade e cada vez mais pessoas tem falado sobre isso e formas de combater essa prática desumana de violência contra as mães, mas infelizmente muitas injustiças nesse sentido estão acontecendo em virtude da falta de capacidade do judiciário e de meios adequados para apuração desses fatos, que na maior parte das vezes, não são verdadeiros.

A alienação parental existe e além dos filhos – que são as maiores vítimas – pais e mães estão sujeitos a sofrer com essa situação, e isso é um fato, mas hoje meu objetivo é lançar luz nos reiterados casos de violência contra as mães praticada pelos pais.

Nesse sentido, a prevenção com a conscientização das pessoas sobre esse tipo de abuso contra a mulher é uma opção na tentativa de minimizar os tristes efeitos da realidade que nos cerca. Acredito também que sanções severas contra os praticam esse ato criminoso deveriam existir como forma de punir e intimidar pessoas que planejam agir dessa forma.

O que as pessoas que praticam violência processual não compreendem é que quando uma mãe passa por esse tipo de situação, os filhos são os que mais sofrem, pois a qualidade da saúde mental e emocional de uma mãe impacta diretamente na saúde e bem-estar dos filhos.

A maior prova de amor que uma pessoa pode dar aos seus filhos é respeitar o pai e mãe deles. E com essa frase eu trago a reflexão para que o ódio de alguns homens contra as mães de seus filhos, não seja maior que o amor pelos filhos que deve prevalecer em quaisquer circunstâncias.

Violência Obstétrica

Infelizmente, um dos problemas relacionados à saúde enfrentados pelas mulheres durante a gestação e o parto é a violência obstétrica.

A violência obstétrica é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “o uso desnecessário ou excessivo de intervenções médicas durante o parto, a recusa de atendimento ou tratamento adequado por parte dos profissionais de saúde, bem como o desrespeito aos direitos das mulheres durante o processo de parturição”. Essas práticas podem incluir desde episiotomia (corte no períneo), uso de ocitocina sintética (hormônio para induzir as contrações), até a recusa de analgesia e/ou respeito às escolhas e preferências da mulher durante o parto.

Há alguns meses enquanto eu fazia as unhas, a manicure que me atendeu me contou que quando ela estava em trabalho de parto, duas profissionais na sala de parto sem paciência diante dos gritos dela por conta das contrações falaram: aqui não é novela das nove, para de dar escândalo!” e “na hora de fazer o filho, você gritava assim também?” Perguntei onde isso aconteceu, e a resposta foi uma maternidade particular e famosa da cidade se São Paulo e isso nos conta que a violência independe de classe social.

Na minha experiência também tenho um caso de violência obstétrica. Depois que minha filha nasceu, eu estava ainda na mesa de cirurgia afoita para sair logo dali, pois apesar de o parto ter transcorrido bem, eu tinha pânico daquele ambiente cirúrgico e tudo que eu queria era voltar logo para o quarto. A equipe médica que me ateneu foi exemplar em termos técnicos e humanos, e eu sou muito grata ao médico que me acompanhou por seu profissionalismo e sensibilidade, mas com exceção da equipe que era maravilhosa,  uma pediatra também acompanhou o parto e quando eu fiz uma pergunta se a bebe estava bem ela foi extremamente grosseira, indelicada e insensível, e praticamente mandou que eu calasse a boca. E novamente esse contexto se deu em uma maternidade de renome da cidade de São Paulo.

Voltando a história da manicure, algumas mulheres em volta reagiram com revolta e disseram para ela: e você não fez nada? Se fosse eu faria tal coisa etc. Ela respondeu: eu não tinha condições, estava morrendo de dor, somente queria ter meu filho com saúde e que tudo desse certo. No meio do falatório de várias mulheres eu disse para ela: eu entendo você, passei por algo parecido e sei perfeitamente o sentimento de impotência que temos quando sofremos uma violência em situação de tamanha vulnerabilidade.

Outro caso próximo que tenho é de uma pessoa da minha família que durante a Cesária ouviu dos médicos: nossa que sorte eles deram, mais 5 minutos os dois (mãe e filho) não teriam resistido. O resultado disso foi uma depressão pós-parto da mãe por alguns meses até se recuperar.

Esses casos acontecem com mulheres todos os dias e a parte boa é que hoje com a velocidade da informação e o uso de celulares até dentro das salas de parto, faz com que quem comete esse tipo de coisa se intimide por medo de ser descoberto, principalmente após alguns casos estarrecedores que vieram a público ano passado, como o do anestesista que foi preso por abusar da gestante dentro da sala de parto.

A violência obstétrica pode ter graves consequências para a saúde física e emocional das mulheres, além de afetar a capacidade de cuidar dos seus filhos. É importante que sejam tomadas medidas para prevenir e combater esse tipo de violência, garantindo que as mulheres tenham acesso a cuidados de saúde de qualidade e respeito pelos seus direitos durante todo o processo de gestação e parto.

Algumas iniciativas que visam combater a violência obstétrica incluem a humanização do parto, o incentivo à participação ativa das mulheres nas decisões relacionadas ao seu parto e a formação dos profissionais de saúde para uma prática mais respeitosa e centrada nas necessidades das mulheres. Além disso, é importante que as mulheres estejam cientes dos seus direitos e saibam como denunciar casos de violência obstétrica.

A denúncia pode ser feita:

  1. No próprio hospital, clínica ou maternidade em que a vítima foi atendida;
  2. É possível também ligar para o disque 180 que presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento;
  3. Disque 136 para falar na ouvidoria geral do SUS ou
  4. 08007019656 da Agência Nacional de Saúde Suplementar para reclamar sobre o atendimento do plano de saúde.

O Papel das Mães na Sociedade Contemporaneidade

Nasce uma mãe, nasce uma culpa – certamente todos já ouviram essa frase, que fez muito sentido quando me tornei mãe, e que fará bastante sentido para o leitor no transcorrer deste tópico.

O papel das mães na sociedade contemporânea é complexo e está em constante mudança à medida que a sociedade evolui. Em geral, espera-se que mães trabalhem como se não tivessem filhos e criem seus filhos como se não trabalhassem fora. Espera-se que sejam responsáveis pela criação e educação de seus filhos, enquanto equilibram isso com outras responsabilidades, como trabalho, cuidado com a casa e outros relacionamentos pessoais, de forma incansável e sem pausas.

Com relação ao lazer, percebo uma diferença da maternidade na contemporaneidade x paternidade na contemporaneidade: se um pai no fim de semana sai com amigos para um bar, por exemplo, é visto com normalidade, mas se uma mãe sai com as amigas para um bar, ela será vista como relapsa e egoísta, afinal deixou os filhos em casa ou com outra pessoa para se divertir. Ainda que essa seja uma crítica velada, ela existe.

O papel das mães na sociedade contemporânea é frequentemente colocado a prova, sobrecarregado e subvalorizado. A pressão social para que as mães sejam “supermães” perfeitas pode levar a um sentimento de culpa, inadequação e estresse, como citado em tópicos anteriores.

Há uma grande falta de apoio e reconhecimento do trabalho que realizam. As mães muitas vezes são vistas como responsáveis por cuidados que são considerados “naturais” e, portanto, não valorizados, como cuidar de crianças, gerenciar a casa e apoiar a família. Essa invisibilidade pode levar a sentimentos de isolamento e baixa autoestima.

No entanto, muitas mães estão trabalhando para mudar a maneira como a sociedade vê seu papel. Muitas estão lutando por melhores políticas de licença-maternidade e paternidade, mais flexibilidade no local de trabalho e reconhecimento do valor do trabalho de cuidado. Além disso, muitas mães estão usando a tecnologia e as mídias sociais para se conectar com outras mães e criar comunidades de apoio e solidariedade, e esse é um caminho sem volta – ainda bem!

Buscar e ter uma rede de apoio é essencial para viver a maternidade com ajuda e acolhimento, pois só temos condições de oferecer nosso melhor quando estamos bem, e a ideia de que somos ou deveríamos ser super poderosas, já caiu por terra há algum tempo, pois não há ser humano que resista a isso. Somos capazes de fazer e realizar muitas coisas, mas saber reconhecer nossas vulnerabilidades, cansaço físico e mental, pedir ajuda quando necessário e reconhecer nossas limitações é um ato libertador e de coragem. Uma campanha publicitaria anunciou em um comercial de tv que quase 70% das mães estão cansadas e sobrecarregadas. Eu não chequei se esse dado confere de forma cientifica, mas pelo que vejo diante das mulheres que conheço, incluindo essa que vos fala, esse número parece coerente.

Não é fácil ser mãe atualmente e imagino que mesmo em outras épocas também não era, afinal fora a parte trabalhosa do dia a dia, não é uma tarefa fácil formar outro ser humano, principalmente para as mães que fazem isso sozinhas, porém, apesar de todos os desafios é muito gratificante viver a maternidade e todas as suas fases e eu faria tudo de novo se fosse preciso para viver e ver o que vivo e vejo quando olho pra minha filha que é o meu grande amor e motivo de imenso orgulho, aprendizado constante e felicidade.

Educação dos Filhos

As novas abordagens para a educação dos filhos têm se concentrado em promover o desenvolvimento integral das crianças, considerando suas necessidades emocionais, sociais e cognitivas.

Uma das novas abordagens mais populares é a criação com apego, que se baseia na proximidade emocional entre a mãe e o bebê desde o nascimento, promovendo o vínculo afetivo e o bem-estar emocional da criança. A criação com apego também incentiva a amamentação, o uso de slings ou carregadores e o sono compartilhado, como formas de promover a proximidade física e emocional entre mãe e filho.

Outra abordagem que tem ganhado destaque é a disciplina positiva, que se baseia na criação de vínculos afetivos e na comunicação não violenta para estabelecer limites e regras claras para as crianças. A disciplina positiva busca evitar a punição e a imposição autoritária de regras, promovendo o diálogo e a cooperação entre pais e filhos.

Além disso, a educação para a diversidade e a inclusão tem sido cada vez mais valorizada, com a intenção de promover a igualdade de gênero, raça, orientação sexual e outras formas de diversidade. As crianças são incentivadas a reconhecer e valorizar as diferenças, e a respeitar a individualidade e a autonomia de cada um.

Com o avanço da tecnologia e das novas descobertas na área da educação, as abordagens pedagógicas e os métodos de ensino estão se transformando rapidamente na era contemporânea. Essas mudanças podem trazer benefícios significativos para as mães e seus filhos, mas também apresentam desafios que devem ser considerados.

Entre os principais benefícios das novas abordagens pedagógicas estão o estímulo à criatividade, ao pensamento crítico e à resolução de problemas, que ajudam a desenvolver habilidades essenciais para a vida adulta. Além disso, as tecnologias educacionais, como softwares educacionais e aplicativos, podem ajudar a tornar o aprendizado mais dinâmico e interativo, estimulando a motivação e o engajamento das crianças.

Um benefício importante é o aumento da acessibilidade à educação, especialmente para aqueles que vivem em áreas remotas ou têm dificuldades de locomoção. Com o ensino a distância e a disponibilidade de conteúdo online, as crianças podem ter acesso a uma variedade de materiais educacionais sem precisar sair de casa.  Por outro lado, as tecnologias educacionais podem ser caras e muitas famílias não têm condições de adquiri-las, e isso é um problema social com relação a educação que esta cada vez mais dinâmica e digital.

Outro desafio é o excesso de exposição às telas, que pode ter impactos negativos na saúde física e mental das crianças. É importante que as mães sejam conscientes do tempo que seus filhos passam em frente a dispositivos eletrônicos e que busquem alternativas saudáveis para estimular o desenvolvimento cognitivo e social das crianças.

Porém, o recurso de usar as telas para entreter as crianças enquanto uma mãe precisa realizar alguma tarefa em casa ou fora dela, é uma realidade que muitos julgam como errada, mas que muitas vezes é a única opção para aquele momento. Dependendo da idade da criança, é muito difícil dar atenção em tempo integral às suas necessidades e em casos de mães que não tem apoio, usar os eletrônicos como recurso é a única opção naquele momento.

Durante a gravidez muitas mulheres fazem planos da maternidade perfeita na melhor das intenções em primeiro lugar, mas também para fazer parte de um sistema que o externo já estabeleceu o que é certo e errado, mas isso é um grande equívoco, pois somos seres diferentes, com necessidades diferentes, pensamentos diferentes e muitas vezes com formatos de família diferentes e não tem como ser igual uns aos outros diante de tanta pluralidade.

Hoje os planos de parto estão em alta bem como os grupos de mães para trocarem experiências sobre as novidades e  seus erros e acertos, e e pelo que eu percebi ao participar de alguns é que a insegurança é algo presente em muitas mães, principalmente naquelas que planejam excessivamente as coisas e se frustram quando o as coisas não saem como o planejado, principalmente por medo da pressão e julgamentos externos.

Percebo muitas mulheres negligenciando a própria identidade, o feminino, as emoções, o autocuidado e os relacionamentos. Cada mãe tem sua própria experiência pessoal da maternidade, e é importante encontrar maneiras de lidar com os desafios e celebrar as alegrias dessa jornada com autenticidade e leveza.

Quando minha filha nasceu eu pensei: ela não vai ficar em telas, oferecerei o aleitamento materno exclusivo por muito tempo e pretendo que ela não consuma açúcar tão cedo. Ela completou 10 anos no fim de março e o que eu posso compartilhar é que nada do que eu planejei, aconteceu: desde bebê ela fica nas telas e tenho bastante dificuldade em reverter isso hoje em dia, não consegui amamentar por mais de 3 meses e tive que dar complemento pra ela não chorar de fome e na primeira festinha infantil o meu plano sobre o açúcar caiu por terra, pois quando as crianças atacaram a mesa de doces, num piscar de olhos a minha pequena estava lá também se esbaldando nos brigadeiros  – e está tudo bem! Percebi e aprendi a conviver com a fato de que muitas coisas não saem como gostaríamos e fluir com a vida tem sido uma experiencia libertadora.

Particularmente no que diz respeito a condução da maternidade eu tenho o equilíbrio como norte e após 10 anos de experiencia materna no meu currículo da vida, vejo que apesar de algumas dificuldades que tive e ainda tenho, estou fazendo um bom trabalho.

Por fim, acredito sinceramente que a única linguagem universal no que diz respeito a educação dos filhos, é aquela que valoriza a transmissão de valores como respeito, empatia, fraternidade, humanidade, gentileza, honestidade e amorosidade pois essa linguagem é a única compreendida em qualquer tempo, em qualquer parte do mundo e por qualquer pessoa e é a única que nos leva além quando pensamos em amor e evolução – que é o que toda mãe deseja para seus filhos.

Conclusão

Diante dos temas abordados neste artigo, é possível perceber que a maternidade na contemporaneidade é um tema complexo e multifacetado. É evidente que, apesar dos avanços conquistados pelas mulheres, ainda existem diversas barreiras que precisam ser superadas no que diz respeito aos direitos maternos e à valorização do papel das mães na sociedade.

O feminismo e o sagrado feminino trouxeram novas perspectivas sobre a maternidade acerca da desconstrução da ideia de que devemos ser lineares e produtivas em tempo integral, pois nossa natureza feminina e cíclica não floresce nesse contexto imposto pelo patriarcado, e a saúde da mulher está intimamente ligada a consciência dessa natureza, ciclicidade e necessidade de respeitar nosso tempo interno. Além disso, há o incentivo e a valorização da experiência materna e o empoderamento das mulheres em relação à sua escolha de ser mãe ou não. No entanto, ainda há muito a ser feito em termos de desconstrução de padrões opressores e garantia de direitos iguais para todas as mulheres.

No âmbito do direito de família, a maternidade é um tema fundamental, diante das mudanças e novas constituições familiares, e é preciso lançar luz nos problemas enfrentados pelas mulheres especialmente em casos de divórcio e disputa pela guarda dos filhos. A violência processual contra mães e as falsas alegações de alienação parental são problemas graves que precisam ser combatidos para garantir a proteção e o bem-estar das mães e crianças.

A violência obstétrica é outro tema preocupante que precisa ser enfrentado, pois muitas mulheres sofrem abusos e abalos durante o parto. É fundamental garantir o respeito aos direitos das gestantes e a humanização do parto, para que as mulheres possam vivenciar a maternidade de forma plena, saudável e sem traumas.

É  importante destacar o papel das mães na sociedade contemporânea e a importância da educação dos filhos. As mães são fundamentais na formação de cidadãos conscientes e responsáveis, e sua contribuição para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária é inestimável.

Diante de tudo isso, é preciso continuar lutando por uma maternidade mais justa, livre e consciente, em que as mulheres tenham o direito de escolher ser mães ou não, e em que a experiência materna seja valorizada e respeitada. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais humana e fraterna, em que todas as pessoas tenham direito a uma vida livre, plena e digna.

Às vezes, a maternidade pode parecer um campo minado, cheio de julgamentos, críticas e pressões sociais. As mães são constantemente bombardeadas com mensagens sobre como criar seus filhos, o que é certo e o que é errado, o que devem fazer e o que devem evitar. No entanto, é importante lembrar que cada mãe tem sua própria história, seus próprios desafios e suas próprias escolhas a fazer.

A maternidade não é um modelo único, e não há uma forma certa ou errada de ser mãe. Cada mãe é única e tem sua própria forma de criar seus filhos, e isso deve ser respeitado e celebrado. Todas as mães merecem ser valorizadas e apoiadas em sua jornada, independentemente de suas escolhas e caminhos.

Por isso, se você que está lendo for mãe, não deixe que o julgamento alheio a impeça de ser quem você é e de criar seus filhos da forma que achar melhor. Busque sempre refletir e melhorar o que é possível com gentileza, leveza e serenidade. Confie em sua intuição, siga seus instintos e não tenha medo de confiar em si mesma.

A maternidade é uma jornada cheia de desafios, aprendizados e momentos de felicidade. Viva sua vida com amor e propósito, crie seus filhos com responsabilidade e dedicação lembrando sempre que nosso legado são os valores que deixamos também através daqueles que formamos e faça sempre o seu melhor, pois quando fazemos o nosso melhor, a vida se encarrega de fazer todo o resto diante da maestria do merecimento por fazermos a nossa parte.

Para os filhos todas as mães são maravilhosas, e por despertar esse sentimento de amor e admiração em outra pessoa, por si só, já é motivo celebrar com alegria nosso dia – que é na realidade todos os dias – junto daqueles que tanto amamos.

Feliz Dia das Mães!

Caroline Oehlerick Serbaro